Antes do sol raiar, o agricultor José Fernandes, de 74 anos, já está de pé cuidando do roçado no distrito de Antônio Miguel, em Itaitinga. Para o produtor não tem tempo ruim para plantar. “Todo dia é dia” de acordar no escuro da madrugada para trabalhar. “Eu fico aqui o dia todo, não falto um dia. Este é meu ofício e tenho a maior alegria de fazer o que faço”, alegra-se o homem, um dos beneficiários do projeto Hora de Plantar da Região Metropolitana de Fortaleza.
Nas primeiras luzes do amanhecer, José ara a terra para receber as sementes do Hora de Plantar, entre elas o milho híbrido e o feijão caupi, uma das novidades do projeto financiado pelo Governo do Ceará, com recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) e do Tesouro do Estado. “É bom demais ter aqui milho ou feijão. A hora mais trabalhosa é plantar, mas vê tudo no ponto, crescendo. E depois ter o que levar para casa, é só felicidade. Rapaz, você enche o saco de espiga e de feijão, bota na bicicleta e vai ‘simbora’ para casa. Ali você tem um cozinhado para comer, dar um vizinho. Todo mundo se alegra. A gente tem que ajudar o próximo”, conta com um olhar afetuoso o agricultor, que ensina na prática o dom da partilha.
Neste ano, José Fernandes integrou a lista dos 155 mil agricultores de 182 municípios do estado beneficiados pela 37ª edição do Projeto Hora de Plantar Safra 2023/2024. A cidade de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), vinculada à Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), fez parte da força-tarefa para a distribuição de sementes.
“Nesta edição, a gente beneficiou em torno de 204 agricultores em Itaitinga. Recebemos um total de 1.700 quilos de sementes. Dentre elas, foram 900 kg de milho híbrido, 450 kg de milho variedade, 300 kg de feijão-caupi, 50 kg de sorgo, 30 metros cúbicos de maniva e 600 mudas de cajueiro anão precoce”, detalha o técnico da Ematerce da região, Artur Lima Júnior.
Brotar da esperança
Do outro lado do roçado, o agricultor José Ferreira olha para o céu, levanta o chapéu em sinal de agradecimento pelo “inverno abençoado” e descreve a qualidade das sementes do projeto Hora de Plantar. “Delas (sementes), saem umas plantas bem bonitas. O milho híbrido é mais ligeiro do que o outro, brota mais rápido. Esses daqui em 70 dias já está maduro, já está chegando, pronto para gente comer”, aponta com entusiasmo o produtor rural.
O agricultor fala também das sementes do feijão. “Ele se deu bastante com a terra daqui de Itaitinga. Essa é a primeira vez que a gente recebe ele e eu já consigo ver como o pé dele é lindo, uma belezura quando está flocando. As sementes são de primeira qualidade, coisa boa. Pode olhar, tanto o feijão como o milho são bonitos de olhar, tudo igualzinho. Uma maravilha”, encanta José Ferreira ao olhar para o horizonte florido.
Tempo de colheita
De todas as etapas para quem sobrevive do campo, o tempo da colheita é o que mais traz alegria aos agricultores Maria e José Medeiros, afirma o casal. Carinho e dedicação são essenciais para o sucesso na colheita, contam os agricultores Maria e José Medeiros e o agricultor Luiz Vicente, do distrito de Antônio Miguel, também beneficiados com as sementes do Hora de Plantar.
“É bom demais isso daqui, é uma alegria medonha. Toda hora eu tô aqui dentro. A gente já está quebrando o milho, ele está no ponto de a gente fazer o que quiser. Nós lá em casa já estamos cozinhando, fazendo canjica, vendendo para ganhar um dinheirinho. Olha, aqui para comer cozido é coisa boa. É muita fartura”, mostra José o roçado. Ao lado da companheira, o homem cuida da roça localizada em frente da casa, localizada na área rural de Itaitinga.
Fartura e celebração
“Muita alegria ver a fartura do milho. Eu vendo assim a colheita, lembro dos ensinamentos do meu pai. Tudo aprendi com ele. E hoje quando o inverno acaba, eu já penso no próximo ano. Eu gosto muito de agricultura. Gosto demais, dou valor. Para mim, o roçado me dá alegria”, conta a agricultora Maria Medeiros, que orgulha-se de ter aprendido com a família o tempo da terra, do plantio à colheita.
Dentro de casa, cozinhar é outra paixão da agricultora. “É muita alegria ver o legume sendo cozinhado. Com o que eu colho, eu também faço pamonha, canjica, faço para meus filhos e ainda dou para os vizinhos. É por isso que eu gosto do roçado, porque eu divido o que planto. E a fartura é a melhor parte. E eu só gosto de cozinhar na lenha”, afirma Maria durante o preparo do almoço.
Carinho e dedicação são essenciais para o sucesso na colheita, indica Luiz Vicente. “Trabalhar no roçado é uma coisa boa para a gente. A gente planta, se alimenta com o que vem da terra. Quando chega nessa época do ano, é tempo de colher. Se não fosse isso daqui, a gente não poderia sobreviver. E ainda mais que com essas sementes (do projeto Hora de Plantar) tudo brota mais rápido. E o mais importante, elas são todas saudáveis”, atesta o agricultor.
Debulhando o feijão, Luiz reafirma a importância do ciclo da terra. “Graças a Deus tem roçado. Todo alimento que chega na mesa do povo vem da nossa colheita. Essas espigas e os feijões aqui vou levar para cozinhar e a outra parte vou distribuir para um pessoal acolá”, conta o produtor rural ao encher o bagageiro da bicicleta usada no trajeto diário da comunidade onde ele mora com a família para o distrito de Antônio Miguel, local que ele exibe com orgulho o roçado. Depois do serviço no campo, durante a rota de volta para a casa, o agricultor compartilha a fartura. “A gente tem que fazer caridade para quem mais precisa, Deus nos ensinou”, finaliza Vicente.
Parcerias
A gestão municipal tem papel essencial para a garantia do sucesso do projeto Hora de Plantar. O secretário de Agricultura de Itaitinga, Ricardo Girão, reforça o trabalho desempenhado em parceria com a SDA. “Aqui na nossa cidade, o Hora de Plantar garante a distribuição das sementes para os agricultores para que assim, eles possam realizar o plantio e a colheita no tempo certo. Após o recebimento (das sementes), a prefeitura entra com os suportes, entre eles o dos tratores, que são todos gratuitos”, explica o titular da pasta.
O secretário Girão reconhece a eficiência do Hora de Plantar, que há 37 anos proporciona incrementos significativos da produtividade agrícola e, consequentemente, no aumento na renda e na segurança alimentar dos cearenses. “Uma boa colheita traz reflexo na economia local, fortalece as cooperativas locais e garante a distribuição dos alimentos ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O projeto é excepcional e é aprovado pelos nossos agricultores. Eu visito os roçados e vejo a alegria das famílias ao verem as sementes germinando, quando elas estão brotando e colhendo. Todo mundo que eu converso está feliz porque nossa querida Itaitinga está tendo uma boa safra neste ano. Mil maravilhas”, agradece o titular da pasta municipal.
37ª edição do Hora de Plantar
A 37ª edição do Projeto Hora de Plantar Safra 2023/2024 foi lançada em dezembro de 2023, em Barbalha, na região do Cariri. O investimento é de R$ 26 milhões, R$ 1 milhão a mais do que foi aplicado na safra passada.
Nesta nova edição, as distribuições de sementes de feijão caupi (231 toneladas), capim mombaça (3 toneladas) e de algodão (10 toneladas) estão entre as novidades para o Hora de Plantar 2023/2024.
Também foram fornecidas aos agricultores e agricultoras familiares sementes de milho híbrido (2 mil toneladas), milho variedade (500 toneladas), sorgo forrageiro (180 toneladas), mudas de cajueiro anão (500 mil), aroeira (4.445 mudas), sabiá (39.926 mudas), maniva (5mil m³ – 10 milhões de mudas) e palma (2,5 milhões de raquetes).
O Hora de Plantar também ampliou sua distribuição de grãos, de forma restrita, a 25 municípios, com 10 toneladas de sementes de algodão e bioinsumos. A execução e assistência técnica do Hora de Plantar ficam a cargo da Ematerce, em parceria com as secretarias municipais de Agricultura.
Em 2021, através da Lei Ordinária nº 17.534, o projeto tornou-se uma Política Pública de Estado destinada ao fomento à produção rural de forma perene, proporcionando resultados socioambientais e econômicos relevantes para o agricultor familiar.
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