Levado ilegalmente da Bacia do Araripe, no Cariri, para a Alemanha há quase 30 anos, o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus volta ao Brasil depois de uma longa espera. A cerimônia de repatriação do fóssil aconteceu na tarde desta segunda-feira (12), em Brasília, e contou com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, do governador do Ceará, Elmano de Freitas, e outras autoridades.
Elmano de Freitas, durante seu discurso, ressaltou a importância do material para a ciência, principalmente para a que se constrói no Cariri. “Gostaria de destacar de orgulho de toda a comunidade acadêmica do estado do Ceará tem de estar recebendo esse fóssil. [É muito importante] o que representa isso para a história acadêmica não só do povo cearense, mas também para o povo nordestino, para o povo brasileiro, para todos que acreditam na ciência e na pesquisa”, ressaltou o governador, que fez questão de agradecer toda a colaboração diplomática em torno da volta do Ubirajara para o Ceará.
“Eu considero que essa construção realizada, um esforço de embaixadas, um esforço diplomático, virá que nós possamos estreitar ainda mais nossas relações, e termos uma intensidade de colaboração ainda maior”, afirmou o chefe do Executivo Cearense.
O fóssil do Ubirajara jubatus, dinossauro datado o período Cretáceo, que viveu há cerca de 110 milhões de anos, foi levado, de forma ilegal, do Ceará, nos anos 1995. Há pelo menos 17 anos a relíquia compunha o acervo do Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha. Agora, em solo brasileiro, fará o caminho de volta ao Cariri, para ser entregue ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (Urca), unidade estadual vinculada à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece). Antes, passará por Fortaleza, com cerimônia marcada para está quarta-feira (14).
Retorno significativo
O professor e diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, localizado em Santana do Cariri, Allyson Pinheiro, celebra o referencial simbólico do retorno do fóssil.
“A vinda do Ubirajara jubatus ao Ceará é muito importante, muito significativa. É um símbolo de que os patrimônios dos territórios pertencem aos povos dos territórios. É um símbolo que a ciência tem limites éticos a serem cumpridos”, pontuou o diretor. Além disso, ele também ressaltou que a relevância da medida vai além da ciência, respingando, inclusive, na economia.
“Essa ação é um símbolo também para desenvolvimento desses territórios. Um dinossauro com essa repercussão tem um potencial de atrair um turismo diferenciado, influenciando o desenvolvimento, fazendo a roda da economia girar”, pontuou o professor.
O Cariri possui um projeto de desenvolvimento territorial de mudanças das condições socioeconômicas locais através de objetos como o fóssil Ubirajara, que é um patrimônio paleontológico e geológico brasileiro.
“Sem dúvida estamos diante de um momento histórico. Um réptil que viveu há 110 milhões de anos, que passou cerca de 30 anos fora, retorna ao seu sítio. Temos muito a comemorar, principalmente o Estado do Ceará, que não tem envidado esforços na área da Ciência, notadamente na Paleontologia, uma vocação do estado”, ressaltou a ministra Luciana Santos. “Volto a destacar que nós temos uma relação longeva, de mais de 50 anos, com a Alemanha, temos muitas agendas em comum, a agenda energética, a de transformação digital, então, hoje, reforçamos essa parceria na área da ciência”, completou.
A volta do Ubirajara
A relíquia, que voltou a território brasileiro no último 4 de junho, foi protagonista, nos últimos anos, de uma disputa internacional pela sua posse. Em 2020, um grupo de pesquisadores alemães publicou um artigo científico no periódico Cretaceus Research com detalhes sobre o fóssil, sua origem e nomeando o mesmo como Ubirajara jubatus. Essa ação levou à mobilização da comunidade científica brasileira e internacional, em especial a de Paleontologia, para a retirada do artigo de circulação e devolução do patrimônio à sua terra de origem.
Ubirajara é a primeira espécie não-aviária de dinossauro encontrada com material semelhante a penas preservado na América Latina, sendo assim considerada um marco na Paleontologia.
A sua importância e história movimentou brasileiros e pessoas de outras nacionalidades, popularizando a hashtag #UbirajaraBelongsToBR nas redes sociais. As negociações para a devolução do material envolveram o Itamaraty, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e a Embaixada da Alemanha, em Brasília. A repatriação só foi possível depois de determinação de autoridades da região de Baden-Württemberg, em julho do ano passado, que apontaram “má conduta científica” na obtenção do fóssil, conforme denúncia do Ministério Público Federal.
Presente na cerimônia, o curador de Paleontologia do Museu de História Natural de Karlsruhe, Julien Kimming, pontuou que esse momento também é importante para a Alemanha. “Sou grato da trazer o fóssil Ubirajara de volta ao Brasil, era uma questão muito importante para mim. Assumi meu cargo em outubro de 2022 e já estava ciente da controvérsia que envolvia a descrição do fóssil, a forma como foi tratada essa história foi muito infeliz. Portanto, todos nós, equipe nova de Geociência [do Museu], estamos muito felizes por podermos apoiar os esforços para o retorno do fóssil ao seu sítio”, concluiu.
Defesa da ciência
Reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Francisco do O’ de Lima Júnior comemorou a importância desse reconhecimento para a região e todo o trabalho científico lá realizado. “É um dia muito significativo para a ciência cearense, nordestina. Esse momento tem várias simbologias que nos emocionam, é a defesa da ciência em seu modo concreto, a defesa da ciência com todas as suas possibilidades. Essa é a valorização do patrimônio e da sua diversidade na região do Araripe”, afirmou.
Desde 1942 a legislação brasileira determina que fósseis são patrimônio da União. Por isso, eles não podem ser comercializados. Para que saiam do País, é exigida uma autorização formal. A exportação é totalmente proibida para os exemplares de referência de novas espécies, os holótipos, caso do Ubirajara jubatus. Cientistas estrangeiros só podem coletar materiais biológicos ou minerais em território nacional se incluírem em seu trabalho pesquisadores brasileiros.
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