De acordo com estimativa de 2019, o Ceará possui 131 localidades indígenas, sendo que 8 destas são terras indígenas oficialmente delimitadas, e 78 são agrupamentos indígenas. Até o último dia 29 de agosto, quando foram coletados os dados divulgados no primeiro balanço do Censo Demográfico 2022, já haviam sido mapeados 12.605 indígenas no estado, número que será bem maior ao final da coleta censitária. Quer estes indígenas residam em setores urbanos ou rurais, em agrupamentos ou não, os dados já disponíveis apontam para uma presença indígena significativa no estado, que poderá ser bem melhor conhecida por meio do trabalho realizado na presente edição do Censo.
“O IBGE buscou na última década melhorar muito o seu trabalho, tanto pensando a tradicionalidade no Brasil para além dos povos indígenas, ao incluir também as comunidades quilombolas, como também aperfeiçoando ainda mais o trabalho já desenvolvido com os povos indígenas”, explica Fábio Jota, Antropólogo e Analista Censitário de Povos e Comunidades Tradicionais da Superintendência do IBGE no Ceará. Entre as mudanças implementadas que visam a aprimorar o trabalho com essas populações, ele destaca: a realização de contatos prévios com as lideranças, a reformulação do questionário direcionado aos povos indígenas, e a implementação do questionário de abordagem para traçar um perfil das comunidades antes de iniciar a coleta nos domicílios.
Iniciado o trabalho no estado, os Jenipapo-Kanindé em Aquiraz e os Pitaguary em Maracanaú foram alguns dos primeiros povos indígenas a receberem os recenseadores. A presença do IBGE representa para as aldeias um reconhecimento por parte do estado, além de uma oportunidade para conquistarem políticas públicas.
“INFORMAÇÕES QUE VÃO MOSTRAR ‘A CARA’ DA ALDEIA”
Reunidos na sede do Conselho Indígena do Povo Jenipapo-Kanindé na sexta-feira, 9 de setembro, pela manhã, os agentes do IBGE e as lideranças da comunidade conversaram sobre o recenseamento da aldeia. Os Jenipapo-Kanindé vivem na Terra Indígena Lagoa da Encantada, no município de Aquiraz-CE, entre as dunas da praia e a lagoa.
Povo Jenipapo-Kanindé recebe o IBGE para reunião sobre o Censo Demográfico 2022
Paulo Alexandre da Silva, Coordenador de Área, introduziu a reunião agradecendo pela recepção e apresentando o IBGE. “Com o Censo, estamos buscando conhecer melhor a população e suas características, traçando um retrato exato do país. Através desses dados, será possível trazer políticas públicas para as comunidades e implementar direitos que já estão garantidos na Constituição. Sem mapear os povos indígenas, não será possível termos esse retrato fiel”, esclareceu Paulo Alexandre.
Ao longo da conversa, os agentes do IBGE também explicaram como irá funcionar o questionário que será aplicado na comunidade, para que todos os presentes pudessem entender as perguntas que serão feitas e já pudessem se preparar para respondê-las adequadamente. Os moradores também foram avisados a respeito da Pesquisa Urbanística de Entorno, que coleta informações sobre a infraestrutura das vias e que, nas comunidades indígenas, só será realizada após terem sido concluídas as entrevistas nos domicílios.
Depois de explanado todo o procedimento para o recenseamento da comunidade, foram então apresentadas Adriana de Souza Negreiros e Andressa Abreu da Rocha, as duas recenseadoras que ficarão responsáveis pela coleta na Terra Indígena Lagoa Encantada, as quais farão o mapeamento de cinco setores censitários, sendo três deles com domicílios, e entrevistarão as cerca de 350 pessoas que ali residem.
Registros da reunião do IBGE com a comunidade indígena Jenipapo-Kanindé
Daniel Alves, que trabalha no Centro de Referência de Assistência Social às famílias indígenas (CRAS), fez questão de expressar sua satisfação em ver seu povo ser recenseado: “É muito importante para a nossa política indigenista o IBGE estar atuando nas nossas comunidades. O estado vai ver nossas necessidades, ver o que os povos indígenas estão precisando.” Para a sua comunidade, ele deixou um recado importante: “Que a gente receba estas recenseadoras de portas abertas, porque esse trabalho vai ser muito importante para o nosso povo e para as mais de 15 etnias do estado do Ceará.”
Também Erasmo Soares, presidente do conselho indígena, elogiou a iniciativa do IBGE: “É a primeira vez que vem uma equipe dessa fazer reunião junto com a gente, que vem conhecer e pesquisar a liderança. Isso é interessante para a nossa aldeia, porque a gente sabe que para chegar as coisas aqui é difícil. Só vem mais por causa das lideranças que estão batendo lá na porta das instituições mesmo. Então quando o IBGE vier aqui, com certeza vai colher informações que praticamente vão mostrar ‘a cara’ da aldeia.”
“DISSERAM QUE AQUI NO CEARÁ NÃO TINHA ÍNDIO”
“A descoberta do Brasil, na verdade, foi uma invasão. Quando Portugal chegou aqui, nós, os povos indígenas, já existíamos, e eles tentaram nos destruir. E nesse massacre, nessa extinção, muitos migraram de um canto para outro em busca de sobrevivência. Assim somos nós. Disseram que aqui no Ceará não tinha índio. Isso aí é mentira. Nós só estávamos quietos, esperando a hora certa de avançar. O que seria de nós se não estivéssemos escondidos nas brenhas dessa serra?”, refletiu Maria Madalena Braga da Silva, a Cacique Madalena, apontando para o alto da Serra da Aratanha em Maracanaú-CE, onde há séculos vive o seu povo, os indígenas Pitaguary.
Com muita felicidade, a Cacique, recebeu na tarde do dia 28 de setembro as equipes do IBGE e da imprensa em sua comunidade. Ela destacou ser aquele um momento inédito para o Povo Pitaguary: “Eu estou muito feliz de saber que agora a gente está sendo reconhecido, porque pela primeira vez esse trabalho do Censo é feito em conjunto com as lideranças. A comunidade vai estar ciente do trabalho que vai acontecer aqui na nossa etnia Pitaguary. Vai ser um avanço para nós, e até para todos os povos indígenas.”
Cacique Madalena (ao centro) recebe equipes do IBGE e da imprensa em sua comunidade Pitaguary
Com a presença da TV Jangadeiro, da TV Verdes Mares e do Jornal O Povo, a cobertura midiática do Censo em território indígena foi pensada pela Coordenação de Divulgação do Censo da UE/CE como uma oportunidade para dar visibilidade ao recenseamento destas comunidades, bem como sensibilizar a população indígena a responder ao questionário e as lideranças indígenas a abrirem suas comunidades para a operação.
Na oportunidade, os veículos de comunicação puderam realizar entrevistas com lideranças da comunidade, com representantes do IBGE, além, é claro, de acompanhar de perto a coleta sendo realizada em domicílios indígenas. O Coordenador de Área Paulo Alexandre da Silva aproveitou a ocasião para explicar à imprensa como está funcionando a operação censitária com as comunidades tradicionais: “O Censo vai atualizar informações sobre a realidade da comunidade indígena, as suas diferentes formas de organização social, costumes, línguas, aspectos culturais. Com isso, o IBGE visa garantir a visibilidade dos povos indígenas nas estatísticas oficiais.”
Imprensa cearense acompanha a coleta no Território Indígena Pitaguary
“O foco deste Censo, que é uma das suas grandes inovações, é o avanço no trabalho com os Povos e Comunidades Tradicionais”, destacou o antropólogo Fábio Jota nas entrevistas para a imprensa. “Já existiram leis que proibiram eles de exercerem sua cultura. Por muito tempo existiu apenas uma narrativa sobre a construção do Ceará, do Brasil. É importante que novas histórias possam ser contadas, novos caminhos possam ser percorridos.”
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