A ideia equivocada do papel de um hospital psiquiátrico, o preconceito e as imposições culturais podem fazer com que muitas pessoas pensem que essas instituições são destinadas às pessoas consideradas loucas. No entanto, unidades psiquiátricas vêm passando, ao longo dos anos, por mudanças na assistência e no perfil de pacientes.
A psiquiatra Ticiana Macedo, médica do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), analisa que, antigamente, priorizava-se o modelo assistencial manicomial, o que faz a sociedade ainda estar se adaptando para entender essa mudança dos perfis da assistência psiquiátrica hospitalar.
Ela explica que, justamente por esse modelo assistencial antigo, de visão manicomial, no qual o paciente era internado para ser afastado da sociedade ou por representar um risco para si ou para outros, ou por inabilidade social que desse suporte para um tratamento em casa, os pacientes eram internados como loucos. “Há décadas, presenciamos um movimento de mudança nessa assistência, com o entendimento de que a pessoa pode precisar de internação, mas que necessita de assistência multidisciplinar e do envolvimento com a família para que possa ser reinserido na sociedade com êxito”, avalia.
Quando devo procurar um hospital psiquiátrico?
Macedo orienta que todo tipo de transtorno mental, desde quadros depressivos, tentativa de suicídio, automutilação, até quadros considerados mais graves, como as psicoses, além dos casos de dependência química, devem ser direcionados para um hospital psiquiátrico.
“O atendimento hospitalar é indicado quando o tratamento, geralmente feito em casa, está se mostrando ineficaz ou quando o quadro é demasiadamente grave e demanda supervisão e assistência constantes. Toda a equipe do hospital é preparada para receber e acolher essa pessoa no momento de agravamento do quadro psiquiátrico, em que ela esteja colocando em risco a si ou a terceiros. Sem o hospital, o tratamento pode ficar prejudicado ou a pessoa pode ter um desfecho muito grave”, alerta a médica.
Riscos de não buscar ajuda especializada
De acordo com a especialista, a pessoa com transtorno mental, muitas vezes, não sabe que tem um problema ou se recusa a admitir a necessidade de tratamento. Isso pode levar à piora progressiva do quadro, com cronificação da doença ou morte.
“A pessoa não está em condições de compreender a sua situação e as implicações de permanecer sem tratamento. Na dúvida, sugiro que procure a avaliação de um especialista, como o psiquiatra, que vai, junto com o paciente e a família, decidir qual a melhor abordagem para cada caso”, ressalta Ticiana Macedo.
Atendimento no HSM
Na Emergência do Hospital de Saúde Mental, que funciona 24h, os casos mais comuns são as crises de agitação e de agressividade, sintomas de transtornos mentais como esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno do espectro autista e deficiência intelectual.
Pacientes com dependência química, em uso desenfreado de substâncias como álcool, cocaína e crack, também procuram o equipamento. “Além disso, atendemos com frequência pessoas com pensamentos suicidas ou com tentativas de suicídio, o que necessita da vinda à Emergência para que esse paciente possa ser avaliado e esse risco iminente possa ser reduzido”, sublinha o diretor clínico do HSM, Helder Gomes.
Psiquiatra, Gomes ressalta que os casos mais comuns de internação envolvem os mesmos transtornos verificados na Emergência e que, havendo a necessidade de acolhimento por mais tempo, o paciente é admitido na Enfermaria, onde é acompanhado por uma equipe multidisciplinar – com psiquiatra, enfermeiro, técnico em Enfermagem, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social. “É importante que o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) que necessita de internação seja assistido de forma adequada”, enfatiza.
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