Quando você pensa em família, qual imagem se forma em sua mente? Quais lembranças são despertadas? Não precisa ter uma única cara, um formato singular, um determinado número de integrantes. Família vai além da fotogenia. Família é aconchego e liberdade para simplesmente ser quem é. Para se ter orgulho de si. Para pessoas LGBT+ no entanto, este espaço pode ser uma grande interrogação. No próximo dia 28 de junho, celebramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT+ e, em uma sociedade que ainda se molda pela heteronormatividade e tende a considerar apenas um modelo de família, manter a linha de diálogo aberta dentro de casa é um passo que vai além das relações com parentes LGBT+, é pensar sobre a sociedade diversa e igualitária que precisamos construir.
O ano é 2021, mas ainda há muita estrada por colorir e percorrer, tais quais as faixas de pedestres das ruas de Fortaleza e de Sobral. Nesses tempos e estradas, desfilar o orgulho de ser mãe de pessoas LGBT+ é mais do que ato de amor, é resistência. É dizer ao mundo que essus filhes merecem respeito, merecem celebrar o orgulho por serem quem são. E é pelo olhar dessas mães e famílias, que acolhem e referendam a luta LGBT+, que a série Orgulho Delas passeia. Desde a gestação da luta até o nascimento da maternidade-militância, vamos contar histórias de mulheres que juntas se fortalecem, se organizam e nos ensinam que não há manual para lidar com as questões que as lutas da comunidade LGBT+ trazem, há a escolha por construir caminhos através do afeto.
Em quatro matérias, você conhece a história da Associação Mães pela Diversidade, aqui no Ceará. E conhece a história de mães que superaram seus próprios preconceitos e iniciaram uma trajetória de luta pelo respeito e amor para seus filhes. “O amor, o acolhimento e o conhecimento é o que temos para levar a todes. É o que damos a nosses filhes e estendemos a filhes de outras famílias LGBT+”, defende Gioconda Aguiar, coordenadora estadual da Associação Mães pela Diversidade.
No Ceará há quatro anos, o grupo conta hoje com 70 mães que lutam pelos direitos de seus filhos, filhas e filhes. Criada em 2014 na cidade de São Paulo, a organização está presente em 23 estados brasileiros, reunindo cerca de 2.000 mães que seguem avisando que já é tempo de se tirar o preconceito do caminho, pois elas estão passando com o mais puro amor. Gioconda é mãe de Allexandra, uma mulher trans, e descobriu o coletivo Mães pela Diversidade ainda engatinhando na busca por orientação para compreender o novo contexto de suas relações familiares. “O fato de seu filhe ser quem é não deve ser motivo para afastar vocês. Respeite e, acima de tudo, ame pois só o amor supera todo o processo que envolve o reconhecimento da sexualidade e da identidade de gênero. O maior orgulho que podemos ter está na luta pela garantia de respeito a nossos filhes. Orgulho que vai além deste mês, que é sentimento diário. Nossa resistência é por suas vidas, pelo direito de amarem e serem amades”, reforça.
“A maternidade por si só já é uma catarse, um aprendizado diário, uma revolução na vida da mulher. Ser mãe de pessoas LGBT+, em um país que, infelizmente, ainda apresenta índices aterradores de violência contra esta população, é uma luta que não arrefece. E nós estamos juntes nesta luta. Estamos juntes no enfrentamento diário à LGBTfobia, no diálogo com a sociedade para buscar alternativas para a proteção desta população e na construção de políticas públicas que garantam sua cidadania”, destaca a titular da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos do Ceará (SPS), Socorro França.
Segundo Lia Gomes, secretária-executiva de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, a celebração pelo Dia Internacional do Orgulho LGBT+ é, sobretudo, momento de reafirmar direitos. “É inadmissível naturalizarmos o fato de que o Brasil é o país que mais mata a população LGBT+ no mundo, que precisemos lidar diariamente com o medo de ter nossos filhes mortes. Então é preciso reafirmar sempre: LGBTfobia é crime. Cada letra desta sigla simboliza milhares de vidas para as quais precisamos construir um caminho para a superação das violências, no qual as existências sejam plenamente respeitadas”, afirma.
Para o coordenador especial de Políticas Públicas para LGBT da SPS, Narciso Júnior, é dever de todes colaborar com a mobilização de setores da sociedade não só para um enfrentamento conjunto da LGBTfobia, mas para o acolhimento desta população, tendo as famílias como aliadas. “É preciso trabalhar o reconhecimento e o fortalecimento das famílias LGBT+ e o papel dessas famílias como pilares importantes de apoio na transição de pessoas trans, no respeito às sexualidades, sempre fortalecendo o laço afetivo. Este é nosso maior desafio”, afirma.
A psicóloga Mayara Viana explica que a relação familiar e o diálogo são aspectos fundamentais para o desenvolvimento das pessoas LGBT+. Em um país onde jovens com histórico de rejeição pelas famílias possuem 8,4 vezes mais chances de tentarem suicídio, de acordo com dados apontados ainda em 2018 pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), entidade que há 41 anos defende os direitos da comunidade LGBT+ no Brasil, cuidar da saúde mental de uma população que também sofre sistematicamente com a violência física está para além do necessário. “O fortalecimento dos laços familiares é muito importante no sentido de afirmação do orgulho e para a própria tranquilidade dessa pessoa ser quem realmente é. Ter o amparo e o apoio familiares, contar com a rede de apoio de amigos, de colegas de trabalho e de pessoas da comunidade LGBT+, são também o melhor suporte contra os episódios de LGBTfobia e de ódio contra a nossa população”, reforça Mayara.
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