Cansaço e fraqueza muscular, queda da saturação aos mínimos esforços, fibrose pulmonar e abalo psicológico estão entre as principais queixas dos pacientes acompanhados pelo programa
O Programa de Reabilitação Pulmonar do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM) está auxiliando pacientes com sequelas pós-Covid-19 a voltarem a ter qualidade de vida. Pessoas em estado grave, diagnosticadas com coronavírus, estão sujeitas a diversas complicações. Cansaço e fraqueza muscular, queda da saturação aos mínimos esforços, fibrose pulmonar e abalo psicológico estão entre as principais queixas dos pacientes acompanhados pelo programa.
A consultora de vendas Oslene Santana Andrade, de 61 anos, passou 24 dias internada no HM. Ela chegou a ter 75% de comprometimento pulmonar e precisou de oxigênio durante toda a internação. “Graças a Deus, eu não fui intubada, mas fiquei vários dias no capacete Elmo. Me sentia fraca, (senti) muita falta de ar e cansava por qualquer coisa”, lembra.
Acompanhamento multiprofissional
Na alta, Oslene dava sinais de que precisaria de cuidados. Ela foi então direcionada ao Programa de Reabilitação Pulmonar, que alia as terapias física e emocional com exercícios e atividades educativas. Tudo personalizado, de acordo com o histórico do paciente, que é acompanhado por uma equipe multiprofissional com pneumologista, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social.
“Estou há um pouco mais de dois meses fazendo o acompanhamento e já percebo os resultados. Os exercícios respiratórios e físicos foram fundamentais. Já saí do oxigênio, consigo tomar banho sem me cansar, voltei a participar de reuniões virtuais e a fazer algumas coisas de casa. Aos poucos, vai ficar tudo normal”, comemora.
A fisioterapeuta e coordenadora do Programa de Reabilitação Pulmonar, Tereza Morano, explica que o programa já funciona há 20 anos tratando pacientes com doenças pulmonares crônicas e, durante a segunda onda da pandemia, redirecionou os cuidados aos pacientes pós-Covid.
Programa alia as terapias física e emocional com exercícios e atividades educativas
“Nós estamos atendendo estes pacientes no propósito de recuperá-los e devolvê-los à sociedade. São pacientes que chegam com muitas limitações físicas, respiratórias, emocionais e sociais. Uma equipe multiprofissional oferece o cuidado integral, fortalecendo neles a adesão ao tratamento e multiplicando a confiança na reabilitação pulmonar do HM”, ressalta.
Na última quarta-feira (16), o Estado anunciou a abertura da Casa de Cuidados do Ceará para reabilitar, inicialmente, pacientes pós-Covid.
Tratamento
O tratamento é realizado após uma avaliação completa e criação de um planejamento, sempre com o objetivo de reabilitar a funcionalidade da pessoa assistida, seja a recuperação física, respiratória ou muscular. “O paciente vem duas ou três vezes por semana, dependendo da gravidade, durante dois meses e meio. Além de medicações e aulas educativas, o tratamento inclui exercícios de aquecimento, alongamento, aeróbicos, de força e respiratórios, em uma academia especializada. Todas as atividades são acompanhadas por profissionais e, na maioria das vezes, com suporte de oxigênio”, explica Morano.
Avaliação
A pneumologista Cyntia Viana explica que a primeira avaliação é feita ainda durante a internação ou após o encaminhamento médico, no caso de pacientes oriundos de outras unidades da rede de saúde estadual. Neste primeiro momento são observadas as comorbidades que contraindicam o exercício, como as doenças coronárias e diabetes, para que o paciente consiga ser reabilitado.
Somente após afastar as contraindicações e após os testes é que o paciente inicia as atividades na academia especializada do programa de reabilitação do HM. “Durante a internação, ele é assistido pela equipe multi, mas somente após a alta iniciamos o processo de reabilitação do paciente, para que ele volte a exercer suas atividades diárias, saia do oxigênio, recupere o peso e a massa muscular”, ressalta a pneumologista.
O programa já funciona há 20 anos tratando pacientes com doenças pulmonares crônicas e, durante a segunda onda da pandemia, redirecionou os cuidados aos pacientes pós-Covid
“Nosso grande foco, além de devolver qualidade de vida ao paciente, é evitar que ele seja reinternado, impedindo que ele tenha complicações como pneumonia após a alta. Por isso, a atuação da reabilitação no pós-Covid é tão importante”, acrescenta.
Ambulatório Pós-Covid-19
Considerando o número de pacientes que recebiam alta em condições de debilidade física e emocional em consequência da internação prolongada, do uso de ventilação mecânica invasiva e múltiplos medicamentos, o HM passou a ofertar, a partir de junho de 2020, o atendimento ambulatorial para acompanhamento de pacientes pós-Covid. Até maio de 2021, 373 pacientes foram atendidos no ambulatório.
Segundo a coordenadora do Serviço de Pneumologia do HM, Penha Uchoa, no início, os desafios foram grandes por se tratar de uma doença nova. “Não sabíamos como seria a evolução desses pacientes, não sabíamos se apresentariam sequelas crônicas ou tratáveis. Outro fato que nos chamou atenção foi que, na prática, se percebeu que muitos desses pacientes não apresentavam nenhuma doença pulmonar prévia, diferentemente do perfil habitual”, comenta.
A médica acrescenta que, atualmente, “esses pacientes passam por avaliação pneumológica para investigação diagnóstica e terapêutica, acompanhamento da evolução clínica e, quando indicado, são reabilitados por um time de profissionais da saúde que segura a mão deste paciente e o ensina a caminhar e respirar de novo, valorizando cada vez mais a vida”.
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