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Secretário da Cultura do Estado, Fabiano Piúba, participou desse momento de união entre duas mulheres artistas que compartilharam histórias e falas emocionadas, seguidas de uma roda de dança do Coco
Se livros transbordam bibliotecas, casas e salas de aulas, espalhando-se para onde houver leitores; se a própria literatura escapa das páginas e telas, voando pelas tradições orais para onde existirem ouvidos atentos; se leitores podem habitar qualquer espaço, desde quartos bem arrumados até bancos de ônibus, soleiras de portas, cafés solitários, praças aos domingos, salas de espera, por que uma Bienal do Livro haveria de permanecer dentro dos limites físicos do equipamento que a recebe?
A partir dessa concepção de literatura – como algo orgânico, que se mistura à própria vida –, a Bienal Internacional do Livro do Ceará criou, em 2011 e manteve, a partir de 2017, uma faixa da programação que acontece em diferentes espaços de Fortaleza, ou mesmo em outros municípios, com atividades envolvendo escritores, artistas convidados e as comunidades locais. De lá pra cá já houve ações em unidades prisionais, praias e praças, ruas e espaços públicos e em Universidades. Neste ano, a iniciativa se repete, com a Bienal Adentro, parte da programação que ocorre fora do Centro de Eventos do Ceará – onde a Bienal do Livro acontece de 11 a 20 de novembro, realizada pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) e Instituto Dragão do Mar (IDM), sob o tema “De toda gente pra todo mundo”.
Embora chame a atenção desde o início do evento, a Bienal Adentro teve um momento de destaque neste domingo (13), com a participação da atriz e Embaixadora da ONU Mulheres no Brasil, Camila Pitanga, da Mestra e Tesouro Vivo da Cultura, Maria de Tiê (CE), e do secretário da Cultura do Estado, Fabiano Piúba. O encontro aconteceu no solo fértil do Sertão do Cariri, mais especificamente na zona rural do município de Porteiras, onde se localiza o Quilombo do Souza. Lá, a dona Maria de Tiê recebeu os visitantes e, juntamente com a comunidade, mostrou a riqueza da Dança do Coco e apresentou tantas outras manifestações culturais da região e da qual é herdeira e guardiã. Os convidados se sentiram à vontade para participar da roda.
Bisneta de escravos que fundaram a comunidade, Maria de Tiê segue na luta pela valorização dessas e de outras manifestações e pela melhoria da qualidade de vida de seu povo. Foi a certificação do quilombo pela Fundação Cultural Palmares, em 2005, que lhe incentivou a dar os primeiros passos – trata-se do terceiro quilombo do Ceará que recebeu o reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares. Hoje, Maria é reconhecida não apenas institucionalmente, pelo título de Mestra da Cultura, mas por todos da região, graças à sua atuação política e cultural.
Além dos momentos de dança, o encontro foi marcado por falas emocionadas e pela partilha de memórias, heranças e batalhas culturais dos presentes, em uma intensa troca de repertórios. Camila Pitanga agradeceu a recepção carinhosa, em nome dela e de sua família, que viu ali representada. “Mais do que carinho eu vejo a magia do amor, me sinto absolutamente amada em minha ancestralidade, do meu pai, Antônio Pitanga, de minha mãe, Vera Manhães. Em nome de minha família agradeço os olhares, sorrisos, a música, e ainda mais quando vier a comida”, brincou, arrancando risadas.
A atriz ressaltou o aspecto de troca de saberes do encontro. “Na verdade, agora, nesse momento, é muito mais eu recebendo (risos). Mas como eu vou ler mais tarde Conceição Evaristo, então acho que dá uma equilibrada”, comentou bem-humorada, referindo-se à obra da autora mineira, uma das curadoras da Bienal do Livro do Ceará.
Em sua fala, o secretário Fabiano Piúba explicou de que maneira o encontro havia sido articulado. “A Bienal do Livro é um evento que acontece em Fortaleza, mas temos um lance bacana que é essa programação que se estende para além da Capital. Quando estive com a Camila durante a participação dela no 32º Cine Ceará, onde recebeu um prêmio, fiz o convite pra ela vir aqui e depois acertei os detalhes com Maria de Tiê para ela nos receber em seu quilombo. Estamos aqui para celebrar”, destacou.
Tendo aceito prontamente a sugestão, Maria de Tiê fez questão de ressaltar a relevância do trabalho de salvaguarda das culturas tradicionais. “Essa importância dessa origem nossa, que temos aqui dentro do quilombo, essa importância que Maria vem caminhando, é bom saber que nunca podemos deixar morrer, essa cultura. E quando estou no trabalho, trazendo jovens, crianças pro meu terreiro, é pra que a gente não deixe que a cultura morra, que ela fique viva como essa árvore”, profetizou.
“Precisamos pensar em como isso aqui pode ser um epicentro de cura, de transbordamento de amor, de pujança, de riqueza para esse Brasil”, completou a atriz Camila Pitanga. “É entender que a Bienal pode caminhar, mas que precisa escutar. Por isso estar aqui no seu terreiro, na sua casa, te olhando, te escutando, trocando, mergulhando na sua poesia e trazendo Conceição Evaristo”, falou a atriz para Maria de Tiê.
Para Julio Lira, coordenador da Bienal Adentro, a programação presenteia não apenas as pessoas, mas os escritores e convidados que participam dos encontros. “Eles podem ter acesso a esse mundo de gente, de vozes que compõem nossa cultura. O desafio é encontrar a situação, o lugar onde cada autor possa ter grupos que dialogam bem com sua obra”, pontua.
Simultaneamente, a Bienal Adentro também oportuniza as próprias histórias compartilhadas nos roteiros. “Essas narrativas, que frequentemente estão apenas na oralidade, vão tocar, vão abrir possibilidade também da história ser guardada, preservada. O fato de irmos para mais próximo da casa das pessoas, do seu cotidiano, permite que a geografia fale, que a paisagem fale. É uma programação que permitiu que o mundo da literatura se encontrasse com o mundo das narrativas individuais e coletivas, e essa tem sido a maior riqueza da Bienal Adentro, comemora.
Em sua 14ª edição, a Bienal Internacional do Livro do Ceará acontece de 11 a 20 de novembro de 2022 no Centro de Eventos do Ceará. Apresentada pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura e do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura (IDM), o evento acontece em parceria com a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), Secretaria de Turismo do Ceará (Setur), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), Programa Mais Infância, Universidade Estadual do Ceará, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Ceará, a Câmara Cearense de Livro e o Sindilivros CE. O apoio é da RPS Eventos, Sesc Senac, Banco do Nordeste Cultural, Universidade de Fortaleza, Unilab, Universitária FM, TV Ceará, Jornal O Povo/Vida e Arte, Fundação Demócrito Rocha, Pixels Educação Tecnológica, Instituto Juventude Inovação, Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura de Fortaleza.
Para saber mais da programação da Bienal Internacional do Livro Ceará, basta acessar AQUI (programação sujeita a alterações).
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