O 34º paciente foi operado na última quarta-feira (18). O homem de 28 anos, que estava na fila de espera há pouco mais de um mês, recupera-se bem da cirurgia
Inspirar e expirar sem dificuldade. Pode parecer pouco, mas para Francisco Edson Cunha, de 65 anos, a respiração, ato automático para a maioria das pessoas, só foi possível após um transplante de coração. O procedimento foi realizado no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM), da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). “Minha cirurgia foi um sucesso. Quando acordei e consegui respirar sem esforço, fiquei emocionado. Antes, eu sentia falta de ar, tinha inchaço nas pernas, não conseguia dormir e dependia de medicamentos 24 horas por dia. Ganhei uma nova vida”, relembra emocionado.
O funcionário público aposentado, diagnosticado com insuficiência cardíaca grave, foi submetido à cirurgia em outubro, após diversas internações e 36 dias de espera na fila. O procedimento que devolveu fôlego a Edson foi um dos 34 do tipo que ocorreram em 2024. Este é o maior número registrado na história do programa de transplante cardíaco da instituição, que celebrou 25 anos de atuação este ano. Ao todo, foram 557 transplantes cardíacos no período.
Ouvir as histórias das pessoas que ganharam um novo órgão mostra que, mais que números, esse recorde significa comemorar vidas e recomeços. Com as esperanças e a fé renovadas, Francisco planeja compartilhar sua história. “Graças a Deus, ao sim de uma família e ao trabalho dos profissionais do Hospital de Messejana, ganhei uma segunda chance. Em 2025, vou escrever um livro sobre minha experiência. Quero que minha história inspire outras pessoas a enfrentarem desafios semelhantes”, declara.
“Ganhei uma nova vida”, emociona-se o aposentado Edson Cunha, que recebeu um coração este ano no HM
Para o cardiologista e coordenador da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca do HM, João David de Souza Neto, o recorde reflete o compromisso da equipe multiprofissional e reforça o papel do HM como centro de referência nacional em transplantes cardíacos.
“O ano ainda não terminou, mas já podemos comemorar os resultados alcançados. Superamos os 32 transplantes realizados em 2016 [ano com maior número de transplantes até então]. Esse desempenho mostra a pujança do Hospital de Messejana e de todos os envolvidos no processo. As doações superaram as nossas expectativas e estamos felizes em poder salvar mais vidas”, destaca.
Referência nacional em transplante cardíaco, o HM realizou, até o dia 18 de dezembro, 28 transplantes em adultos e 6 em crianças. Atualmente, 7 pacientes aguardam um novo coração
Regionalização
Em 2024, além do esforço da equipe, atribui-se o crescimento do número de transplantes, às iniciativas voltadas à captação de órgãos e a regionalização da saúde. Ocorreram captações no interior do estado, como nos Hospitais Regional do Cariri (HRC) e Hospital Regional do Vale do Jaguaribe (HRVJ) e fora do estado como aconteceu em outubro, no Rio Grande do Norte.
É o que diz o cirurgião cardíaco e coordenador cirúrgico da Unidade de Insuficiência Cardíaca e Transplante do Hospital de Messejana (HM), Juan Mejia, que também celebra os resultados alcançados. “Estamos felizes em atingir números tão expressivos. Mas para além dos números, comemoramos os resultados positivos na sobrevida dos pacientes, que demonstram a consolidação dos nossos fluxos e processos, e sobretudo o esforço e o comprometimento de todos os profissionais que se dedicam diariamente para a realização dos procedimentos. Um cuidado empregado antes, durante e após os transplantes”, ressalta.
Para 2025, o especialista espera fortalecer ainda mais a equipe, trazer novas ideias, trocar experiências com outros centros de referência e aprimorar os serviços oferecidos pelo Hospital de Messejana. “Queremos alçar voos ainda mais altos, trazer inovação e salvar mais vidas. Estamos prontos para os próximos transplantes”, afirma.
No topo do ranking nacional
O Ceará tem se destacado positivamente nas realizações de transplantes de órgãos e tecidos em 2024. Até o momento, já foram realizados 1.955 transplantes, superando o total de 1.726 do ano de 2023, abrangendo todas as modalidades de transplantes.
Entre os destaques, além do transplante cardíaco, estão os transplantes de córnea, que colocam o Ceará no topo do ranking nacional e os transplantes de fígado, com 232 transplantes já realizados até agora em 2024, superando o maior marco de 229 em 2019.
Para a coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Estado do Ceará, Eliana Régia Barbosa, esses números refletem o esforço contínuo e o avanço no sistema de saúde do Ceará, com destaque para a eficácia na realização de transplantes, que trazem esperança e qualidade de vida para muitas pessoas. “É fundamental reconhecer a generosidade das famílias doadoras, que, em meio à dor da perda, transformam o sofrimento em amor ao próximo, oferecendo uma oportunidade de vida e renovando a esperança de quem aguarda por um transplante”, completa.
Como se tornar um doador de órgãos
Para doar órgãos e tecidos, basta que a pessoa deixe a família ciente do seu desejo, pois a família é quem vai autorizar a doação. O Ceará realiza transplantes de rim, fígado, pulmão, pâncreas, coração, medula óssea, córnea e válvulas cardíacas.