Aos oito anos, Cleide Costa (68) já mexia na almofada da mãe. Curiosa, ela achava bonito o barulhinho dos bilros e a peça que ia se formando a partir do trançado bonito que a mãe fazia. “Aprendi só observando ela na almofada. Eu sempre fui uma menina curiosa e a renda foi uma paixão à primeira vista, um caso de amor que dura até hoje e vai ser para sempre”, conta Cleide, que junto de outras mulheres do Centro de Rendeiras da Prainha, produziu toda a renda utilizada na árvore de Natal que a Secretaria da Proteção Social (SPS) expõe na loja galeria da Central de Artesanato do Ceará (CeArt). Ao todo, foram feitas 138 peças em renda para compor a árvore de Natal, que já está sendo montada na loja da Praça Luiza Távora. As rendas utilizadas foram de diversos tamanhos, desde caminhos de mesa a toalha bandeja e porta copos.
“A renda não é só um trabalho que me traz retorno financeiro, ela é principalmente o meu desestresse. Aqui com a minha almofada eu esqueço de todos os problemas. O barulhinho dos bilros e as linhas e cores que vão criando novos desenhos e formas vão me dando sempre novo ânimo. Eu realmente não sei o que seria de mim sem a renda, eu que sou filha de mãe rendeira e de pai pescador”, diz dona Cleide.
Gracila da Cunha (64) conta sobre o processo de fazer as rendas para compor a árvore de Natal. “Fizemos rendas brancas e cada uma focou em produzir peças diferentes uma da outra. Usamos uma aplicação chamada toalha, de ponta a dentro, e os caminhos que foram feitos têm desenhos que são conhecidos como “americana”, além das pilicas, que chamamos de chapéu do papa”, relembra dona Gracila, que assim como Cleide, aprendeu a costurar aos 8 anos de idade. “Aprendi a fazer renda com a minha mãe e hoje sigo fazendo o trabalho que ela tanto amava. Já trabalhei em outras coisas, mas logo voltei para a renda, que é minha vocação”, conta Gracila.
Onélia Santana, titular da Secretaria da Proteção Social (SPS), órgão que coordena a CeArt, destaca que essa foi mais uma forma de homenagear as rendeiras cearenses. “Queremos mostrar o trabalho tão delicado e exclusivo que elas fazem e vamos aproveitar essa data festiva para mostrar todo o talento das nossas rendeiras. Precisamos, sobretudo, valorizar esse saber que é tão cearense e que se perpetua entre as gerações”, reitera a secretária.
Atualmente, são 38.961 artesãos cadastrados na CeArt. Para comercializar esses itens, a CeArt conta com seis espaços físicos e um canal on-line.
Por meio da CeArt, o artesão tem acesso a serviços como cadastro para emissão de identidade artesanal, que garante isenção no Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); cursos e oficinas de qualificação, inovação e gestão, além de participação em feiras e eventos. A CeArt promove a compra direta dos artesãos e a comercialização dos produtos certificados com o Selo CeArt.
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