Para algumas pessoas, as celebrações de fim de ano, como o Natal e o Ano Novo, podem ser difíceis. O mês de dezembro, apesar de festivo, faz um convite à reflexão. Além de alegria e diversão, sentimentos como tristeza e melancolia são comuns no período.
Segundo Helder Gomes Moraes Nobre, psiquiatra e diretor clínico do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), existem diversos estudos sobre esse fenômeno – notório nos consultórios de psiquiatras e psicólogos.
“O que a gente observa é que há uma necessidade imposta pela sociedade para que as pessoas estejam bem e felizes, principalmente neste mês. Dezembro, no entanto, também é caracterizado pelo fechamento de um ciclo no qual fazemos retrospectivas sobre o nosso ano e as nossas próprias reflexões, nem sempre positivas”, explica.
O psiquiatra ressalta que, nos últimos dois anos, com a pandemia da covid-19 e as quase 700 mil vidas perdidas no País, sendo 28 mil no Ceará, muitas famílias estão enlutadas. O fim de ano, portanto, agudiza sentimentos pela falta daqueles que não estão mais presentes. “Em outros casos, existem relações familiares complicadas, em que as pessoas acabam se encontrando por causa das festas, o que faz gerar uma situação desagradável”, afirma.
Um dos maiores problemas, segundo o especialista, é quando há o questionamento sobre os sentimentos e a sensação de desconexão do que a pessoa “deveria estar sentindo”. “Nós temos de lembrar que cada pessoa é única e vai reagir de forma diferente. Nesse encerramento de ciclo, é muito importante que a gente possa refletir sobre os acontecimentos para tentar ressignificar situações para o próximo ano”, orienta.
Assistência psicológica e psiquiátrica
Nobre indica tentar não se culpar por acontecimentos e entender que uma situação negativa é algo natural e que o futuro pode reservar questões positivas.
Quem já tem algum transtorno psiquiátrico como ansiedade e depressão vai estar mais predisposto a sensações negativas no fim de ano. Caso esses sentimentos venham de forma insustentável, trazendo incômodo, a recomendação é procurar um atendimento psicológico ou psiquiátrico.
Autoconhecimento
Contar com ajuda psicológica é imprescindível para o autoconhecimento. Aurilene Xavier, coordenadora do Serviço de Psicologia do HSM, enfatiza que parte da sociedade em preparação para o fim de ano vive o que se chama de “advento”, no qual o indivíduo se reconhece como coautor do seu próprio processo.
“Há uma consciência de quem se é, percebendo-se como ser que possui sombras e luzes, mas que, ao deixar a luz se sobressair, realizou parte dos desejos, fonte de autoestima. O fim de ano é o momento de avaliação, de ruptura com o que foi sombra antes (medos, angústias, ansiedade, conquistas esperadas). É a preparação de um novo começo, de um novo ciclo cheio de desejos e fortalezas que darão a certeza de realizá-los, e nunca motivo de desespero e descrenças. É aí que renovam a fé, a esperança e a certeza de que somos corresponsáveis pela vida, seja a nossa ou a do outro”, detalha Xavier.
A psicóloga pontua que, para muitas pessoas, esse período é sinônimo de fracasso, da escassez de conquistas, de desencontro consigo mesmo, indicando falta de zelo em escutar os próprios desejos e sonhos. “A ruptura aqui se dá com a perda de consciência de quem se é, com a lacuna de reconhecimento dos recursos internos que dá lugar às angústias, ao medo, à desesperança, à insuficiência de autoestima, podendo levar o indivíduo ao extremo”, analisa.
Para Xavier, o momento é de reforçar a esperança, de construir ou refazer o projeto de vida. “É quando nos inteiramos de quem somos, dos recursos que possuímos e nos predispomos a ser. É ver além de nós mesmos numa relação empática que só nos alimenta numa trajetória de realizações e conquistas”.
Presentar e ser presenteado
Segundo Fernanda Pereira de Sousa, psicóloga do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), também da Rede Sesa, na contramão do sentimento de melancolia, ocasionado pela proximidade das festas de fim de ano, há também a intensificação do ato de presentear. Um gesto simples, porém muito esperado e que estimula a parte do cérebro associada ao prazer, à conexão com os outros e à confiança. “Ela tem implicações fisiológicas e emocionais positivas”, destaca.
Ao presentear alguém, o organismo humano libera neurotransmissores como dopamina e endorfina, responsáveis pelas sensações de bem-estar e alegria. No que refere ao aspecto emocional, a psicóloga explica que presentear e ser presenteado podem construir uma relação não verbal, pois se atribui um significado e um sentido ao objeto, estreitando laços.
“Ao fazê-lo, você estimula a empatia; você se põe no lugar do outro e cria uma expectativa para assistir aquela pessoa receber o presente. Há altruísmo. Para quem recebe, o sentimento é de reciprocidade”, sublinha Sousa.
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