Há 7 dias a vida de Mary Hellen Coelho Silva, 22, virou de ponta-cabeça. A moradora de Pouso Alegre (MG), que foi detida com outros dois brasileiros ao desembarcar no aeroporto da Tailândia com pelo menos 15,5 kg de cocaína em malas, sonhava em abrir uma loja de doces e bolos na cidade mineira. Segundo a família, ela buscava ganhar dinheiro para custear o tratamento de câncer no útero que a mãe sofre, há três anos, e já evoluiu para a fase terminal
Mary Hellen é a filha do meio entre cinco irmãos e sempre foi considerada a mais sonhadora da família, segundo a irmã, a estudante de enfermagem Mariana Coelho, 27, com quem ela dividia o mesmo teto. A jovem parou de estudar por alguns anos. Queria usar todo o tempo para trabalhar. Em 2022, tinha decidido retornar ao colégio, onde cursaria o 1º ano do Ensino Médio.
Natural do Rio de Janeiro, a jovem já havia trabalhado em vários ramos. Vendendo roupas, na fabricação e venda de bolos e doces e como atendente de uma churrascaria, com carteira assinada. Esse foi o seu último emprego, antes de embarcar para Tailândia. Pediu demissão, segundo a família, uma semana antes da viagem, mantida em segredo por ela.
Ela sonhava alto. Queria uma vida melhor pra ela, para a sobrinha e nossa mãe. Por isso, só pensava em trabalho. Mas tinha decidido voltar a estudar esse ano para ter um currículo melhor, né? A gente já vinha vendendo bolos e doces na rua. Estava dando certo e pretendíamos abrir ainda esse ano a nossa lojinha.
Mariana Coelho, irmã
Além de sonhar com um futuro promissor, Mary Hellen também se preocupava em ajudar o próximo. Segundo a irmã, uma forte chuva atingiu a região de Pouso Alegre no final do ano passado, causando muitas enchentes. Muitas famílias perderam tudo e Mary Hellen se prontificou a arrecadar cestas básicas e roupas.
“Foram pelo menos 300 cestas arrecadadas. Ela só queria fazer o bem. Na mesma hora, publicou na internet o pedido das cestas, juntou com os vizinhos e amigos e saiu distribuindo. Tinha muito amor ao próximo. Apesar da nossa mãe fazer tratamento contra o câncer na rede pública, por exemplo, ela se preocupava em conseguir algo melhor na rede particular. Ela está na fase terminal e até foi internada ao saber da notícia da prisão”, conta.
Sem histórico
A irmã da jovem também conta que Mary Hellen nunca teve envolvimento com drogas, com nenhum tipo de crime e não tem passagens pela polícia. A família não sabia da viagem para Tailândia e ela nunca tinha sequer saído do país.
As amigas da época do colégio não conseguem acreditar na prisão. Segundo elas, Mary Hellen era tranquila, não se envolvia em confusão e era considerada querida por todos. “Ela sempre foi muito amiga de todo mundo e muito boa com todo mundo também. Era respeitosa, confiável. Desde o diagnóstico de câncer da mãe, ela vinha sofrendo bastante. Ainda estamos em choque com a prisão dela”, contou Camila Eduardo Campos, 20.
Angelique Sanches, melhor amiga de Mary Hellen, acredita que a jovem foi enganada. Ela começou nas redes sociais uma campanha para que a moradora de Pouso Alegre cumpra a pena no Brasil.
“A Mary Hellen era muito inteligente. Não iria transportar drogas e ainda mais fora do país. Algum menino deve ter chamado ela para ir pra Curitiba, devem ter tirado o passaporte por lá e depois ido pra fora do país. Ela é ‘correria’. Trabalha para conquistar as coisas dela. Já trabalhou em pastelaria, lanchonete. Não precisava disso”, contou.
Assídua nas redes sociais, Mary Hellen publicava fotos em viagens nacionais, como no Rio de Janeiro. Vaidosa, ela costuma aparecer nas publicações maquiada. Em algumas das postagens, faz menções a festas rave, aparece segurando um cigarro de maconha ou publica artes fazendo apologia à droga. Segundo as amigas, ela fazia consumo esporádico e nunca teve envolvimento com o tráfico.
“Já a vi fumando maconha, como eu também fumo. Mas é só isso. Consumo próprio. Ela nunca usou outras coisas e muito menos vendia. Tenho certeza que ela foi enganada”, disse uma das amigas.
Ajuda
A família não tem advogado especializado em casos internacionais para interceder no caso de Mary Hellen e vem usando as redes sociais para pedir ajuda. ” Alguma ONG, algum advogado de renome, alguma autoridade, o Itamaraty. Esse caso tem que chegar à Presidência da República. Se ela errou ela tem que pagar, mas com prisão, no país dela. Não pena de morte”, desabafa a irmã, Mariana.
Em nota, o Itamaraty, por meio da Embaixada em Bangkok, informou que acompanha a situação e presta toda a assistência cabível aos nacionais, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.
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